Depressão Refratária: o que fazer quando antidepressivos não funcionam?

A depressão refratária, também chamada de resistente ou de transtorno depressivo maior, é caracterizada por sintomas crônicos de longo prazo que não respondem adequadamente aos tratamentos padrão, tais como medicação e psicoterapia.
O psiquiatra André Brunoni, professor associado e livre-docente do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e coordenador do Serviço de Neuromodulação do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP) explica que a causa exata da depressão refratária não é conhecida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores biológicos e ambientais, incluindo genética, estilo de vida e estresse.

“É importante notar que a depressão refratária não é um sinal de fraqueza ou falta de força de vontade, mas sim uma indicação de que tratamentos regulares não estão funcionando e outras terapias mais intensivas podem ser necessárias”, afirma.

Os sintomas incluem sentimentos persistentes de tristeza e desesperança, perda do interesse em atividades que antes eram prazerosas, mudanças no apetite ou nos padrões de sono, dificuldade em focalizar ou tomar decisões, fadiga, baixa autoestima e pensamentos de suicídio ou morte.
Os tratamentos para a depressão refratária podem variar dependendo do indivíduo e da gravidade de seus sintomas. Geralmente, eles envolvem uma combinação de medicamentos como antidepressivos, psicoterapia e mudanças de estilo de vida.

Para tratar o transtorno depressivo resistente, os psiquiatras costumam prescrever diferentes tipos de antidepressivos, por um tempo determinado, para que verificar qual tem melhor efeito no paciente.
Em alguns casos, no entanto, tratamentos mais intensivos como a eletroconvulsoretapia (ECT), a neuromodulação e o uso de cetamina podem ser recomendados.

Neuromodulação A Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), também chamada de neuromodulação, é o principal tratamento médico da classe da neuromodulação não-invasiva. Por meio da EMT, pulsos magnéticos chegam aos neurônios, estimulando ou diminuindo sua atividade, conforme a necessidade de cada caso.


O estímulo ultrapassa a estrutura craniana até chegar ao córtex cerebral e atingir os neurônios, melhorando os sintomas depressivos.
Esses pulsos de baixa frequência (geralmente a 1 hertz) irão inibir a atividade daquela região do cérebro. Já os de alta frequência (geralmente a 10 hertz) irão estimular o seu funcionamento.


Uma sessão de EMT costuma durar de 15 a 20 minutos. Em consultório, o médico posiciona uma bobina, ligada ao aparelho de EMT, que gera pulsos eletromagnéticos sobre a cabeça do paciente, que fica sentado em uma poltrona.


A pessoa permanece consciente e sente apenas um formigamento leve no local da estimulação. Após a sessão, o paciente pode se levantar e ir embora normalmente, sem qualquer restrição.


“Neuromodulação e terapia eletroconvulsiva são dois tipos diferentes de tratamentos usados para tratar certas condições de saúde mental. Enquanto a ECT é usada para tratar depressão grave, a neuromodulação é uma forma mais nova de tratamento que possui menos efeitos colaterais”, diz Brunoni.
O primeiro aparelho de estimulação magnética surgiu na década de 1970, no Reino Unido, para restabelecer o funcionamento cerebral. A técnica foi aprimorada pelo médico Anthony Baker, nos anos 1980. No Brasil, a EMT foi regulamentada em 2012 pelo CFM (Conselho Federal de Medicina) como procedimento médico para o tratamento de doenças psiquiátricas.

A terapia eletroconvulsiva (ECT), conhecida popularmente como eletrochoque, foi desenvolvida na década de 1930 para tratar transtornos psiquiátricos. A técnica é feita em ambiente hospitalar, com anestesia geral, e induz a uma crise convulsiva por meio de uma descarga elétrica.
Enquanto na eletroconvulsoterapia pode haver perda de memória, na estimulação magnética transcraniana esse aspecto pode ser melhorado, dependendo do ponto estimulado na sessão.


O CFM (Conselho Federal de Medicina) regula o uso da eletroconvulsoterapia desde 2002 no país. O método é indicado em quadros de depressão grave, risco de suicídio iminente, transtorno bipolar, forma catatônica da esquizofrenia, casos em que o paciente não responde às medicações ou não pode ingeri-las.
A ECT é o tratamento mais eficaz e de ação rápida contra a depressão grave. Por apresentar efeitos colaterais, como perda de memória, os benefícios precisam ser avaliados por um psiquiatra.

A cetamina, também chamada de ketamina, é um medicamento de efeito anestésico. A substância foi descoberta na década de 1960, mas apenas nos últimos 20 anos que os médicos começaram a pesquisar a sua aplicação, em baixas doses, no tratamento da depressão resistente.
A sessão de cetamina endovenosa é realizada em ambiente médico controlado e supervisionado. “O paciente é monitorado e monitorizado para garantir a segurança do procedimento. Ele é conectado ao equipamento de infusão intravenosa, que contém a cetamina, e o medicamento é liberado lentamente no organismo durante 40 a 60 minutos”, relata Brunoni.


Após o procedimento, o paciente deve evitar dirigir veículos ou realizar atividades que requeiram concentração.
A escetamina é a forma intranasal da cetamina. “O paciente faz a inalação do medicamento e permanece monitorado por 1 a 2 horas para observar efeitos colaterais. Também deve ser feita em ambiente supervisionado”, diz Brunoni.

Matéria publicada originalmente na Folha de São Paulo no dia 24 de Janeiro de 2023. Acesse clicando aqui.

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